sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Educação Sentimental Parte 1: Cada um tem o seu lado Summer de ser.

Assista ao vídeo abaixo.Não precisa ser totalmente,somente a cena inicial já basta. Legenda do que foi dito,logo abaixo:

Summer entra no elevador,escuta Tom ouvindo música,e diz: Eu amo The Smiths!!

Tom: O quê?

Summer: Eu disse que amo The Smiths ....er....você tem bom gosto musical!

Tom: Você gosta de The Smiths?

Summer: " to die by your side,such a heavenly way to die", sim,eu os amo!!

Summer sai do elevador e Tom solta um "puta merda!!"

Assim começa o filme 500 Days Of Summer [2009], e a jornada sentimental intensa de Tom por Summer. Jornada, nesses 500 dias, que foi da paixão fulminante à angústia, tristeza e raiva. Tudo causado por Summer, uma garota que dá a abertura ao envolvimento afetivo ,mas que não consegue corresponder com todas as expectativas de Tom.

O próprio desabafa a uma outra garota, em um #encontro fail:

O negócio é que....estou confuso. Por um lado não quero esquecê-la[no caso,a Summer].Pelo outro, sei que ela é a única mulher que me faria feliz. [...] Existe duas opções, ou ela é um ser humano mau,sem sentimentos e miserável,ou ela é um robô

E é esse tipo de visão que é compartilhada por muitos amigos e colegas meus: a de que Summer foi uma pessoa insensível diante do amor que Tom oferecia a ela,e o que pretendo abordar nesta postagem. Mas não se enganem, à primeira vista eu posso soar um defensor leal à Summer, quase um advogado do Diabo. O curioso é que, como muitas pessoas, eu fui/sou [?] muito mais “Tom”do que “Summer” em minha vida afetiva [e digo um pouco mais do que outro porque não creio que exista somente 100% de um ou outro personagem em cada um de nós.]


Vendo o filme me vi claramente em porções de situações que o Tom viveu, como a cena logo acima,ou a das expectativas frustradas [e a cena “Expectativas VS. Realidade”,ao som de Hero,da Regina Spektor, é uma das partes mais profundas do filme], e outras mais em que a reciprocidade não ocorria e as angústias emergiam.

Porém, paremos para refletir. A tendência afetiva nossa é sempre de esperar ansiosamente atitudes da outra pessoa, que por muitas vezes ela não está preparada para dar, seja por imaturidade, receios ou até mesmo falta de interesse de querer algo maior conosco. E quando isto não é suprido, criamos uma tempestade num copo d’água, passamos daquele sentimento de paixão quase irracional para outro de angústias torturantes. E daí a pessoa a quem está apaixonado passa daquela presença magnífica à um karma afetivo complicado de se desvincular. E também pra se criar uma história pessoal de “ninguém me ama,ninguém me quer,ninguém me chama de Baudelaire” não custa nada pra acontecer.


Nós esquecemos o nosso lado Summer, que creio que exista em cada um, em maior ou menor grau.: algum “fora” dado por nós, ou mesmo algum desinteresse nosso em criar laços com alguém que no momento estava aberto a viver um relacionamento junto conosco.

Outro ponto que saio em defesa de Summer é que Tom, na maior parte do filme,se comporta como se tivesse sido enganado pela sua ex, como se Summer tivesse claramente assumido pra si o dever de corresponder às expectativas dele, e que ela friamente abandonou “sua missão essencial”,como a de uma mãe que abandona teu filho.


Discordo totalmente da frase do escritor Antoine de Saint-Exupéry ,“Você é responsável pelo aquilo que tu cativas”[Pequeno Príncipe]. Responsável nada, pombas!!! Como posso ser responsável por ter tido a minha figura se tornado,exteriormente por alguém,um papel que tenha a obrigação de suprir as expectativas alheias? A partir do momento em que você, de espontânea vontade,não pega tal missão pra si, ,não há nada em que possa ser culpado. E até mesmo,quando se assume tal posição,é algo complexo de ser lidado, afinal um relacionamento,creio eu, não deve-se ser transformado em uma lista de formalidades para agradar ao parceiro como exemplo,"tenho que ligar todo o dia pra fulano(a)/tenho que mandar sms sempre pra fulano(a)/temos que estar juntos sempre que o tempo permitir,etc etc.”É algo que mata muitos namoros...mas isto é assunto pra ser desenvolvido em outra ocasião.

A garota do #encontro fail citado anteriormente,depois de ouvir todas as lamentações de Tom,diz o seguinte:

Garota: Posso te fazer uma pergunta?

Tom: Sim

Garota: Ela[Summer] nunca te traiu?

Tom: Não,nunca!

Garota: Ela já aproveitou-se de você de algum jeito?

Tom: Erh.....não!

Garota: E ela te disse de início que não queria um namorado?

Tom: Erh....sim!

[silêncio constrangedor, verdade nua e crua exposta ,e depois o Tom enchendo a cara e chorando num karaokê]

E vale lembrar o que Summer disse logo no início do filme:

Summer: Só queria lhe dizer que...não estou...querendo nada sério!Tudo bem?

Tom: ........sim! [com um ar de surpreso]

Summer: Algumas pessoas não gostam de saber disso!

Tom: Eu não!![mas a face sem demonstrar tal convicção]

Summer: Tem certeza?

Tom: Sim.Casual,não é?Ir devagar.

Summer: Sem pressão.

Obviamente Tom nem pensou em que estava concordando. Talvez por estar hipnotizado por Summer, não percebeu que ela jogou as cartas na mesa de forma clara,desde o início,e que ele,pelo encantamento, ignorou solenemente.


Outro ponto que todos podem estar pensando é aquele do final do filme. Afinal Summer casou-se com outra pessoa tempos depois do termino com Tom.E ele [e muitos telespectadores] ficaram indignados.E Tom mantém a seguinte conversa:

Tom: Não queria ser a esposa de ninguém e agora é a esposa de alguém

Summer: Me surpreendeu também

Tom: Acho que nunca vou entender.Quer dizer,não faz sentido!

Summer: Apenas aconteceu.

Tom:Mas é isto que não compreendo,o que aconteceu?

Summer: Eu só...eu só acordei um dia e soube....

Tom: Soube o que?

Summer: O que eu nunca tive certeza com você.

Tom: Sabe o que é uma droga? Perceber que tudo o que você acredita é mentira, é uma droga!

Summer: O que quer dizer?

Tom: Você sabe,destino,almas gêmeas,amor verdadeiro e todos aqueles contos infantis.Besteira....eu deveria ter te escutado.

Summer: Não!!!,E eu acho isto porque,eu estava sentada numa doceria, lendo Dorian Gray,um cara chega em mim e pergunta pelo livro e hoje ele é meu marido.

Tom: E daí?

Summer: E se eu tivesse ido ao cinema?Se eu tivesse ido almoçar em outro lugar?Se eu tivesse chegado 10 minutos atrasada? Foi o que era pra ser,e eu só pensava,”Tom estava certo”.


E aí,caro leitor,você percebe Summer tem um pouco de Tom também? Summer queria ter uma expectativa sanada pelo parceiro, a de “ ter A CERTEZA”,que por sinal ela nunca teve com Tom. Como se julgar isto?É um sentimento tão íntimo. Creio que não é algo que se possa construir, como muitos dizem “ah,mantém o namoro que os sentimentos que tu busca em alguém vai surgindo com o tempoMEN-TI-RA. Somos adultos o suficiente pra saber, desde o início,se a pessoa visada por nós desperta um grande interesse ou não. No final,todos procuram ter essa “tal certeza”,e nesse ponto,todos,TODOS somos um pouco Summer também.

Bem, creio que você deva estar pensando. Poxa Dan,então o que fazer? Olha, realmente não sei. Só acho que ficar vivendo uma vida 100% estilo Tom ou 100% estilo Summer não é algo muito agradável pra constituir uma vida afetiva mais saudável. Há inúmeras possibilidades que podem ser seguidas, e testadas, até você se encontrar num tipo de situação que lhe seja mais agradável. O filme demonstra bem isto em uma cena, aonde estão Tom e uma garota esperando serem chamados para uma entrevista de emprego.Após a constatação que ambos estariam ali pelo mesma vaga,ela lembra que o já tinha visto antes,e trocam um papo rápido,que termina aparentemente,mas com um gancho para se continuar mais,caso queiram. Ele é chamado pelo entrevistador, e vai para a sala , enquanto o narrador diz....

Se Tom aprendeu algo, é que você não pode atribuir um significado cósmico a um simples evento terreno.Coincidência.É tudo que há.nada mais que coincidência. Tom finalmente aprendeu que não há milagres. Não existe coisas como o destino.Nada está destinado a ser.Ele sabia.Ele tinha certeza disso agora!

Mas Tom volta à garota. E a chama para um café. Ou seja, disposto a se arriscar da mesma forma como foi com Summer.


E pra terminar, eu deixo a pergunta para você, leitor. Tu arriscarias o perigo de se investir cada vez mais em alguém interessante, sabendo as dolorosas conseqüências que possam ocorrer em decorrência disto?


9 comentários:

  1. Cara, muito bom, o melhor texto que você já escreveu sem sombra de dúvidas. Ficou bem real, claro que muito mais cabível para quem viu o filme, mas o fato de você ter colocado os trechos dos diálogos, ilustrou muito bem a situação que estava disposto a comentar, sem prejudicar quem não tenha visto a história.
    Vi muita coisa dos diálogos que tive nos últimos dias sobre a situação próxima, pela qual passei; para ser sincero, olhei por outro ângulo, algo que me deu a certeza de que ninguém teve culpa de nada, que foi bom e valeu a pena.Sabe, tirou o remorso que restava, a culpa que jogava no outro. Sinto totalmente aliviado.
    Sério, muito bom o texto, o melhor de todos que você já escreveu e um dos melhores que já li nesse seguimento de blog/vida afetiva.

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  2. Muito legal Dan. Espero que vc continue a escrever assim. Tomara que os "summers" por ai sejam sinceros como ela foi e que os "toms" não sejam tão tontos. Porque é isso que complica.
    bjs

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  3. Como o prometido... :)

    Foi muito legal ver o começo do filme dizendo "Isso não é uma historia de amor"... Desde o início ele já diz pra gente nao se iludir achando que veremos "aquele" final feliz com o casal se beijando no pôr do sol..
    Quando ouvi isso, tremi! Já tinha ouvido isso uma vez, nao com essas palavras. Mas com uma verdade do tipo: Não se envolva, eu nao quero te fazer sofrer, você nao pode gostar de mim... blablabla
    O que acontece, é que mesmo sabendo do fim. A gente nao acredita. Ou acredita que o fim pode mudar. Não sabemos do amanhã!!
    Comigo foi assim. Eu ainda achei que no fim a Summer reconheceria seu amor por Tom. Que por certos pontos acho que ela gostava mesmo dele e que só faltava reconhecer.
    Sofri junto com o Tom quando ela terminou.
    Pq como o amigo dele dizia... ela tinha que reconhcer que já estava indo longe demais. Mesmo jogando as cartas na mesa, o afeto nao conseguia dizer com todas as letras que elas "nao estava afim dele". Na minha opiniao esse foi o erro dela.

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  4. E concordo contigo, Dan
    A gente poe muuuita expectativa em cima de coisas que nao devemos. Mas acho que no filme o Tom nao teve culpa. Ele entendeu no começo que ela nao queria se envolver.
    Mas banhos no chuveiro, passeios de maos dadas, filmes, dormir um na casa do outro, ir em festas como se fossem casais e se encontrar TODOS OS DIAS... Sério.. até eu se nao tvesse admiração pela pessoa iria acabar me envolvendo!!
    Por outro lado, ele já gostava dela. E eu se estivesse no lugar dele REALMENTE.. ia me arriscar.. mas ja ia saber que uma hora a casa ia cair e que eu ia me ferrar. Como atualmente faço!

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  5. Primeiramente quero dizer que seu texto está realmente bom Dan. Parabéns!!

    Eu acho que sou bem Tom... porque será né? rsr
    Brincadeira a parte... acredito que devemos investir sim tudo numa pessoa que estamos realmente afim. Na vida não dá pra ficar se perguntando "e se.." no futuro. Você tem escolhas, tem um caminho bifurcado na sua frente a todo momento e tem que escolher um caminho. Se escolher o que é menos arriscado vai ficar se indagando a vida toda a respeito do que poderia ter acontecido se tivesse tomado o caminho mais arriscado. Contudo se tomar o caminho com maior risco, você deve conhecer as consequencias, no entanto, o fim, mesmo que trágico, não vai te deixar com aquela dúvida e arrependimento de não ter feito o que o seu coração pedia. Amar é isso ai mesmo. É se jogar do avião sem se preocupar se o paraquedas vai abrir ou não. Talvez ele abra, talvez não. Mas pelo menos você tentou. Expectativas... tente não ter nenhuma... só aproveite o momento, a queda. Se você ficar preocupado se vai ou não se machucar num relacionamento, não vai sobrar tempo para estar de fato com essa pessoa.
    Enfim é o que eu acho. Ou vc está 100% no relacionamento (arriscando tudo) ou continue sozinho.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Primeiramente quero agradecer aos comentários e elogios ao texto.Farei o possível para trazer textos ao mesmo nível deste. =D


    Fabrício,realmente uma das minhas inspirações ao escrever tal texto foi nossas últimas conversas,que foram realmente voltadas na reflexão de como é complexo relacionamentos.Fico feliz que a leitura tenha ajudado a romper com certos "incomodos" que ainda habitavam sua cabeça.E você teve uma sacada certeira sobre a forma da minha escrita.Eu realmente tive a preocupação de criar um texto que fosse "legível" às pessoas que não viram o filme.

    Sarah,morri de rir do seu comentário.Sua "cara" realmente!Eu ainda acho que o mais eficaz é o equilibrio no estilo Summer e Tom de ser. Falta e excessos nesses estilos é um "problema" a ser pensado.

    Dari,tenho a mania de acreditar que tudo pode mudar no final.E também já arrisquei muitas vezes sabendo,no fundo,que iria me ferrar.E não é um pensamento tão tranquilo de se viver rs.
    Realmente houve uma presença/atitudes fortes de "casalzinho" por parte da Summer,e acho que foi aí que confundiu o Tom,já que o discurso oficial era "não levaremos nada a sério".Acho que o compreendo neste ponto também[ou seja,já tive probleminhas parecidos a long time ago rs]

    Tom[não o Hansen,e sim o Carneiro hehehe],discordo em partes de você =P .Admiro a tua coragem de "cair de boca" em relacionamentos. Mas confesso que acho difícil,em minha opinião,voltar a saltar de paraquedas quando já ocorreu uma vez em que o paraquedas não abriu e tu se arrebentou no chão.Não que não se deva voar mais uma vez.Mas creio que seria bom,no próximo vôo,saltar com um "paraquedas reserva",só pra garantia hahaha. O que seria esse "paraquedas reserva" é algo que tenho tentado descobrir.

    Rosi,realmente relacionamentos fulminantes te levam do céu ao inferno num piscar de olhos.Vi que tu é a favor da frase do Pequeno Príncipe.Penso em brevemente trazer o assunto à baila,ele é bem polêmico de certa forma.
    Jurava que vc era um dos "charlottes". Charlottes são membros de uma comunidade do orkut chamada "I'm a little bit Charlotte",que é uma personagem do filme Lost In Translation[Encontros e Desencontros],da Sofia Coppola.Conhece o filme? Passe,caso dê,na comunidade.Fiquei curioso se ela te atraira de certa forma.
    Gostei de saber que você "aterrisou" aqui de forma diversa como foi com o restante da galera.

    Pessoal,como o título do texto diz,essa é a educação sentimental número 1.Logo,terão outras mais,e pretendo usar,não só filmes,mas também crônicas,músicas,etc etc. Caso vocês tenham alguma sugestão de tema,compartilhe comigo! =)
    Bem,é isto,grande abraço a todos e obrigado pelos comentários mais uma vez.

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  8. Acho que todos temos um pouquinho de Tom e um pouquinho de Summer em nós. Às vezes sofremos porque alguém não correspondeu nossos sentimentos (Tom) e, em outros casos, somos a Summer ao 'desprezar' os sentimentos do próximo. No final das contas, não há vilões. Somos apenas humanos. Esse é um dos motivos para o filme ser tão espetácular: Ele retrata de maneira fiel como muitos relacionamentos se desenvolvem e terminam.

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  9. Eu adorei os comentários sobre o filme, pena que ainda não assisti. Assim que eu tiver feito isso, postarei um comentário mais digno.

    Beijos pra ti, Dan! :*

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